UTI

"De um ponto adiante não há mais retorno. Esse é o ponto que deve ser alcançado." 
Franz Kafka

Quando eu achei que seguiria meu caminho, as trevas do passado estenderam sua mão e me asfixiaram. Fiquei de joelhos e implorei para divindades nas quais não creio, e senti o chão ceder e a corda em meu pescoço ferir. Busquei o ar, busquei a paz, busquei viver e busquei morrer. Lutei simplesmente porque tinha que lutar, mas não era eu que lutava. Me perdi mas fronteiras de espaço-tempo que existem dentro da minha própria cabeça e sim, caminho sedento por esse deserto atrás de um maldito oásis já que, apesar de sempre ter me contentado com miragens, atualmente nem a água que deveria ser de verdade me sacia. O fogo queima até os ossos, e me protejo dele com um suicídio. A tempestade queima e arde aqui dentro, preenchendo o vazio com um turbilhão de raiva e ódio - muitas vezes injustificados -, e somente uma tempestade pode acabar com a outra. Eu acendo as luzes e encaro meus olhos em chamas. Eu deixo de tentar sequer sobreviver, viajei pelo tempo e agora minha máquina emperrou. O Universo me abençoa com o fracasso, o Caos e a dor. Caminho até a beirada do abismo e posso sentir as milhares de almas dentro de mim implorando para eu dar só mais um passo. Posso sentir o vento abraçar meu corpo frágil e desviar dele e empurrá-lo. Há um maldito cronômetro no canto da minha visão sempre, eu não sei quanto tempo falta para zerar... mas nunca na minha vida eu senti-me tão perto ao menos do 1. As mentiras que contei e me contaram, eu as posso sentir queimando meus lábios. Sim, talvez seja por isso que ninguém nunca mais virá a beijar os meus lábios, pelo menos não com vida. Estou perdido e as almas não podem me guiar pelo caminho da vida. Estou morto e os vivos me excluem por isso. A cura vem para aqueles que a buscam, mas a doença me impede de buscar. Os rostos e jalecos ao redor de mim, podem me perguntar tudo e tentar me medicar de todas as formas. Mas porque diabos nunca me oferecerem a eutanásia? 

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