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Sinfonia de Queda - Primeiro Ato.

Ato 1: Nicotina. Se tudo o que você tem hoje, pessoas, bens materiais, conquistas, se tudo isso se dissolvesse e se perdesse ao longo da sua vida, se dissipando como neblina ao tocar do sol, o que te faria continuar em frente? O que te levaria à levantar da cama toda manhã, à continuar lutando? O que pausaria o inevitável cronômetro quase zerado na sua cabeça? Embora a noite estivesse quente, a fumaça também quente que Nina Fernández soltava era reconfortante. O cigarro havia sido cortesia involuntária de um dos clientes do restaurante de beira de estrada. Ela quase jogara fora sem conferir o conteúdo do que pensou ser apenas uma caixa vazia, abandonada sobre a mesa, mas num impulso abriu a embalagem revelando dois cigarros ali esquecidos. Queria acreditar que o cliente deixara ali como uma forma de gorjeta, embora soubesse que tudo não passava de esquecimento. Afinal, ultimanente as poucas coisas boas que vinham acontecendo eram apenas casualidade mesmo. Quem poderia falar de sorte o...

a (última) nuvem.

Para as gotas de lágrima que choveram e foram medidas em  ML Meu querido, se você olhar para o céu durante o dia, é improvável que ele esteja totalmente limpo, com sua aparente cor azul uniforme. Tal qual um quadro em branco bombardeado por gotas de tinta, estão presentes nos firmamentos as nuvens, quebrando a monotonia da certeza monocromática. Entre as mais comuns estão as Cumulos, que formam-se na camada mais baixa da atmosfera. Porém chega. Não é de ciência meteorológica que vim falar, apesar de que as metáforas talvez sejam inevitáveis, já que assim como nuvens se condensam e chovem água sobre a terra, eu condenso e chovo palavras sobre o papel, embora nossa modernidade me leve à transferir da celulose para o celular, com o perdão do péssimo trocadilho. Mas eu, meu amigo, você bem o sabe, sempre fui uma completa paradoxo. E embora os meus cadernos e o bloco de notas tenha virado um cemitério de textos bons que talvez ninguém nunca venha à ler, eu ainda gosto de me expressar at...

inferno.

"Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Escrever, por exemplo: «A noite está estrelada, e tiritam, azuis, os astros lá ao longe.» O vento da noite gira no céu e canta. [...] Em noites como esta tive-a eu nos meus braços. Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito. Ela amou-me, por vezes eu também a amava. Como não ter amado os seus grandes olhos fixos. Posso Escrever os Versos mais Tristes Essa Noite - Pablo Neruda Meu caro, desde quando pulei da sacada existencial do mundo, sorrio ao passar pelas nuvens, minhas amigas e companheiras. O perfume das gotas de chuva e as cumulonimbus das pétalas. Escrevo esta carta não somente para ti, mas aos que morrem, aos que vivem, aos que riem, aos que amam, aos que perdem. Também ao verme que primeiro consumirá minhas carnes e as apodrecerá - pedindo desculpas à Brás Cubas. Aos anjos estuprados que choram a ira dos sofredores e ninguém mais liga para suas lágrimas.       Não posso ignorar os olhares ...