Desespero da Boa Noite.

"A esperança seria a maior das forças humanas, se não houvesse o desespero." 
 Victor Hugo 

Não sei. Eu simplesmente não sei de mais nada. Me encontro perdido, e seria cômico se não fosse trágico, pois eu sempre me considerei infinitamente pequeno, a ponto de não acreditar quando me perdi dentro de mim mesmo. Prostitui minha alma e meu futuro em nome da pútrida tristeza, que agora virou meu único guia. No oceano de lágrimas que derramei, continuo a naufragar sem nem mesmo saber onde é em cima e onde é em baixo. E agora só continuo seguindo, tentando achar uma só trilha em um labirinto de espelhos. E não gosto do meu reflexo, tenho horror ao meu olhar choroso e cansado. Derrotado. 

Ontem, eu estava com sono. Mas não consegui dormir. Milhões de pensamentos cruzavam minha cabeça a cada instante, e eu comecei a entrar em desespero. E acho que foi só o começo. Por algum tempo, eu gostei de me sentir especial. De ser um dos poucos no mundo que realmente estava bem por dentro. Mas agora tudo tá desabando, o peso do céu que o meu Atlas tentou aguentar por fim começou a esmagar a tudo. E tudo que resta é o medo. Do que posso fazer. Ontem eu me alimentei dos fantasmas que existem nos livros, ontem provei do mofo da felicidade. Sentei-me diante do livro da minha vida e vi tudo apodrecer, vi o nascimento do meu tempo, e então vi tudo acabar, morrendo e queimando, até que não sobrasse nada nem ninguém, apenas eu. E o barqueiro mostrou-me o rosto daqueles que se foram e o que estão por ir.
Ontem, minha sanidade foi de encontro com as rochas e fez água, impulsionada pelas soberbas vargas tempestuosas dos meus sentimentos. Pensei em amor, pensei em dor e em felicidade. Em ódio, tristeza e saudade. E chorei ao chegar nas memórias. Morri mil vezes de desidratação tentando alcançar os oásis de felicidade em meu passado, mas em todas as vezes eram só miragens na paisagem árida da minha mente. Quando eu terminei de morrer eu me atirei, caindo infinitamente pela minha linha do tempo, seguindo o maldito coelhinho branco. Atirando maçãs para o alto, contemplando a queda dos anjos, a caça das raposas, o feitio do café. E ao atingir o chão paralelo que se encontra no infinito, me senti vazio e etéreo, finito. Extinto. Instinto de fugir de mim, voltar para mim e correr, e viver a vida que quero ceifar. E quando a respiração já se acalmava e o ar doentio preenchia cada vez menos meus pulmões, eu me lembrei de todas as promessas de nunca ir. Sangrei estrelas ao recordar dos que quebraram a promessa, aspirei a antimatéria ao me lembrar de quando eu a quebrei. Já se questionou sobre os sonhos por vir de um bilhete suicida? Já refletiu acerca da filosofia de vida dos que partem? Já escreveu seu tratado de TCC sobre o brilhantismo dos insanos? Sobre os fins de mundo particulares e subjetivos eclodindo agora?

Onde erramos? Quando erramos? Em que mundo erramos? Em qual acharei a solução? A química da queda e a física do esquecimento. A matemática da poesia e a rima da álgebra. Quando alcançaremos o ponto de partida, quando venceremos os cacos de vidro que gostejam de nossos olhos? A partir de agora, se é que o agora existe.

Se morrer, morro em paz, como diziam os poetas. Se nascer, nasço feliz, como disseram os profetas. Abençoe-me com o dom do esquecimento, com a promessa da morte e o apartar da dor.


Eu menti. Não estive em desespero só ontem. Eu ainda estou desesperado. Porque eu nunca escaparei do ontem, mesmo que ele nunca tendo existido. 

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