nota_5

ao longo da minha vida, parecia que eu sempre acabava em um ponto no qual eu tinha vontade de virar um fantasma. ir para outra cidade, simplesmente partir e recomeçar do zero, novo local, novas pessoas. como se isso de alguma forma fosse me livrar da culpa do passado. e novamente eu me encontro nesse estado, nesse desejo de partir e recomeçar do zero. e mais uma vez eu não vou fazer isso, não porque não queira, mas simplesmente porque não tenho como. 

acho que no fim era só um planejamento de uma forma de me matar mais branda. se ninguém mais soubesse de mim e eu não falasse nunca mais com ninguém que conhecesse o meu passado, seria uma forma de morrer sem medo, sem dor.

nem a morte resolveria o que eu causei. resta seguir. mordendo a língua até sangrar pra não chorar. apertando os dedos pra evitar soluçar. tomando sorvete com gosto de lágrima no fim do mundo. me odiando mais do que qualquer outra coisa no mundo.

eu nunca nunca vou poder ser sincero com alguém. como estragar a imagem que essa pessoa tem de mim? já tem gente de mais que me odeia aqui e eu sou a que mais me odeia. não tô afim de conseguir mais ninguém para essa lista.

é segunda, o sol se põe, o sorvete derrete, o dia se aproxima do fim e eu quero chorar. quero gritar e quero me atirar de algum lugar sem precisar morrer necessariamente. quero atender uma ligação, quero ser melhor no emprego. 

não quero ser o monstro.
mas ainda tenho memórias de ser.
então ainda sou.

só queria que tudo fosse apagado. dos últimos 3 anos e 4 meses. dos últimos 4 anos e 4 meses. dos últimos 5, 7, 10 anos. dos últimos 22 anos.

só queria ser apagada. 

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