carta de amor às larvas.
Nina, eu criei uma palavra nova. Sim, eu a criei, mas seu significado não é nenhum pouco novo para mim. Seu conceito é um velho e adormecido companheiro indesejado que vez ou outra, quase sempre, acorda para me perseguir, agarrando o meu pulso ao qual está algemado com correntes de lâminas e brasas.
Vermetornar, essa é a palavra. Significa o sentimento, a sensação, a certeza de estar apodrecendo aos poucos e em vida. De estar deixando tudo acontecer sem se preparar, sem agir, sem estar pronto. O momento quando você se dá conta de que perdeu suas chances, de que fodeu sua própria vida, de que todas as suas escolhas a trouxeram até aqui e provavelmente quase todas estavam erradas. É estar deixando o tempo devorar a você sem fazer qualquer esforço contrário. Mas isso é uma desculpa, uma mentira. O tempo devora-nos a todos, independente de tentar resistirmos a ele ou não.
E que podemos fazer quanto a isso? Ao meu ver, nada. Podemos passar o tempo restante de nossas vidas vivendo ignorantes, estáticos e vermetornando-nos, ou podemos nos esforçar em nossa inextinguível guerra contra o vazio presente em todo o não vazio.
Se eu me concentrar, se eu esquecer as lágrimas que parecem abrir caminhos em brasa em meu rosto, se eu esquecer os gritos que fazem meus tímpanos sangrarem, se eu ignorar os golpes violentos em meu rosto, em meu corpo, se eu for além e superior a tudo isso, posso senti-las, posso sentir as larvas me devorando vivo.
As malditas, pútridas e metafóricas larvas me vermetornando. Me tornando parte de algo maior que eu nunca fui e imploro para não ser. Eu posso suplicar a elas, posso rezar a qualquer deus de qualquer panteão e posso sorrir em desprezo a tudo que elas são e representam, e ainda assim nada disso adiantará. E quando elas vencerem – não se engane, as larvas vão vencer, elas já venceram – só restarão nossos ossos corrompidos e frágeis, insuportando o peso das angústias, arrependimentos e catástrofes que a humanidade provocou desde o início de sua existência, baseada em escolhas erradas que diziam estar certas.
Que péssima hora para ouvir a si mesmo, que péssima hora para se entregar ao marasmo ancorativo e imperativo das larvas, que péssima hora para se tornar um verme metodicamente ao longo de cada segundo que é tragado, nasce e chega ao fim. Que péssima hora para seguir os seus sonhos.
Que péssima hora para odiar as larvas, porque tudo que consigo fazer é amá-las.
Diário de Álex Taylor
15 de abril de 201?
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